Não só no Brasil, mas em muitos lugares do mundo, a injustiça esta presente. Ela ocorre quando pessoas iguais e com os mesmos direitos são tratadas de forma desigual. A injustiça deveria incomodar todas as pessoas. Montesquieu, escritor e filósofo francês, afirmou certa vez que “A injustiça que se faz a um, é uma ameaça que se faz a todos”. O livro do profeta Amós tem algo a dizer sobre injustiças: é um protesto contra a opressão e a injustiça social. Vamos analisar neste artigo o chamado e a mensagem deste profeta, um dos profetas menores. Tendo em vista este objetivo, serão destacadas,nos próximos dias, algumas informações sobre o mesmo: as circunstâncias do seu chamado e, por fim, sua mensagem relacionada à injustiça social.

 

1. QUEM FOI AMÓS?

Seu nome, do hebraico ‘ãmôs, significa “carregador de fardos”. Vivia em Tecoa, vila que ficava cerca de 10 km de Belém, e 19 km de Jerusalém, no reino de Judá, no Sul.[1] Pape afirma que Tecoa ficava na região árida do sertão que se estende até o Mar Morto, ao Leste, e até o deserto de Negev ao Sul, e que o povoado não gozava de nenhum prestígio, sendo apenas uma encruzilhada nas estradas utilizadas pelas inúmeras caravanas que atravessavam o Oriente Médio.[2] Era uma área utilizada para a criação de ovelhas, e com muitos pastores.[3]

Em Tecoa, Amós foi pastor, possivelmente criador de ovelhas (1:1; 7:14), além de cultivador de sicômoros – um tipo de figo de qualidade inferior (7:14). Por causa destas informações, Peterlevitz afirmou existir boas razões para se considerar que Amós integrava a população camponesa empobrecida.[4] Balancin e Storniolo, chegou a afirmar que o profeta era uma pessoa pobre com vários empregos a serviço de outros para sobreviver: “Lembraria hoje o boia-fria que vive das oportunidades passageiras de trabalho”.[5] Esta, contudo, não é a opinião de todos os estudiosos, conforme se verá.

Apesar de não ter uma formação acadêmica reconhecida, Hubbard afirma que ele não era um camponês simples, mas culto.[6] Este autor fala sobre a possibilidade de Amós ser um pastor rico e influente, que administrava um rebanho significativamente grande, e não um simples peão.[7] Smith também defende esta possibilidade, ao dizer que ele administrava um grupo de pastores nesta região, e que não era um humilde pastor.[8] Este mesmo autor ainda afirma: “O estilo literário, o método de argumentação, o conhecimento da política internacional claramente mostram que Amós é uma pessoa educada e culta”.[9]

            Peterlevitz[10] explica que a razão destas defesas é o primeiro versículo do livro de Amós, onde o profeta é identificado como “criador de ovelhas”, tradução da palavra hebraica noqed. Este mesmo termo é aplicado ao rei de Moabe, Mesa (2 Rs 3:4). O termo noqed, então, não indica um mero pastor, mas sim um proprietário. Smith comenta sobre um estudo deste termo hebraico, em ugarítico, acádio, hurriano e moabita mostra que estes administradores de ovelhas possuíam uma posição mais alta do que pastores comuns, alguns inclusive eram empregados pela corta real.[11]

 

Eleilton William de Souza Freitas,

Diretor da FATAP.



[1] Smith, 2008, p. 20.

[2] Pape, 1982, p. 16.

[3] Smith, 2008, p. 21.

[4] Peterlevitz, 2011, p. 4.

[5] Balancin; Storniolo, 1991, p. 7.

[6] Hubbard, 1996, p. 104.

[7] Idem.

[8] Smith, 2008, p. 21.

[9] Smith, 2008, p. 53.

[10] Peterlevitz, 2011, p. 3-4.

[11] Smith, 2008, p. 52.