Entre as últimas palavras de Jesus, no evangelho de Mateus, encontra-se a seguinte comissão aos seus discípulos: Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os (…); ensinando-os (28:19-20). A pergunta é: qual o grande mandamento deste texto? O “Ide”? É assim que a maioria de nós acostumou responder. Mas será mesmo, que o grande mandamento deste texto é o “Ide”?

Um estudo mais cuidadoso deste texto revelará que, na verdade, a ênfase da grande comissão não está no verbo “Ide”. Temos apenas um imperativo em Mateus 28:18-20, isto é, uma única ordem. Este único imperativo mostra onde está a ênfase da comissão de Jesus. Sem rodeios: não é o “Ide”. No grego, “ir” – como “batizar” e “ensinar” – é um particípio. Verbos no modo particípio, conforme estes aparecem, são auxiliares, e indicam ação em desenvolvimento.

O particípio no grego se parece com o nosso gerúndio, no português. Por isso, a melhor tradução para o verbo “ir” seria “indo”; a exemplo de como foram traduzidos os verbos batizar e ensinar: “batizando” e “ensinando”. É importante destacarmos também que, alguns estudiosos afirmam que quando um particípio precede um imperativo, ele tem força de imperativo. Neste caso, o “Ide”, apesar de não ser, teria “força de imperativo”, pois precede um. É uma possibilidade. E é por causa dela que as nossas Bíblias traduzem este verbo por “Ide” ou “Vão”.

Contudo, estes estudiosos reconhecem que, mesmo tendo “força de imperativo”, e mesmo sendo traduzido por “Ide”, o verbo “ir” está subordinado ao imperativo, o grande mandamento do texto. O imperativo do texto é: fazei discípulos (gr. matheteusate). Esta é a única, principal e grande ordem do texto. Ela poderia ser traduzida também por “discipulai”. Toda ênfase do texto recai sobre ela. Todos os outros verbos são auxiliares e explicam os estágios da mesma, ou sua metodologia (como colocar a ordem em prática), que será o assunto de outro texto.

Mas porque estamos dando tanta importância para isto? O que muda colocar a ênfase no “fazei discípulos” e não no “Ide”? Qual a relevância disso? Colocar a ênfase no “fazei discípulos” mostra-nos que Jesus não está interessado em que façamos “conversos” ou “adeptos do cristianismo”. Ele não nos mandou apenas “ganhar almas”. Ele não quer que nos preocupemos tão somente com que alguém “aceite a Cristo”. Não! Nosso trabalho não é somente este! Isto é muito pouco diante da ordem de Jesus. Ele quer discípulos!

Fazer discípulos é muito mais difícil do que convencer alguém a colocar o nome no cartão de chamada de uma igreja! Se você pregou, e a pessoa recebeu a Cristo, seu trabalho só está começando. A missão de todo discípulo de Cristo é fazer outros discípulos. Lutemos, então, para olhar para a grande comissão, e colocar a ênfase da mesma no lugar certo, não no “ide”, mas no “discipulai!”.

Eleilton William de S. Freitas

BIBLIOGRAFIA

CARSON, D. A. O comentário de Mateus. Tradução: Lena Aranha e Regina Aranha. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.

1 Carson (2010:688).