Paulo mostrou, em Romanos 1:18-32, que todo os pagãos de sua época estavam naturalmente condenados por Deus, por não reconhecê-lo como tal. Obviamente, o mesmo vale para os pagãos de todas as épocas. Pois bem, além deles, até aqueles que têm alguma herança religiosa também são indesculpáveis diante de Deus.

Depois de mostrar que os pagãos gentios são pecadores, Paulo volta sua atenção aos judeus, que possivelmente se achavam superiores por causa da sua herança religiosa. Para os judeus, a revelação de Deus era mais completa, pois não dependiam apenas da criação. Este trecho ensina-nos algo muito interessante sobre o julgamento de Deus.

 

O julgamento de Deus é infalível

Em Romanos 2:1-3 Paulo mostra aos judeus, que poderiam estar gostando do quanto ele foi duro com os gentios, que eles também não são menos culpados. Segundo Sttot, um dos propósitos de Paulo, no início de Romanos, é mostrar que tanto judeus quanto gentios estão em pé de igualdade diante de Deus no que se refere ao pecado e a salvação.[1] Os judeus achavam que, por fazerem parte do povo escolhido de Deus, não eram passíveis ao julgamento. Paulo mostra que eles não podem praticar o que condenam, pois, o fato de ser povo de Deus aumenta a responsabilidade em vez de diminuir. O julgamento será de acordo com a “verdade”, para todos. Eles não escapariam do julgamento divino.

 

O julgamento de Deus é imparcial

Em Romanos 2:4-11, o apóstolo mostra que as obras das pessoas revelam a quem o coração delas pertence realmente. A verdadeira fé sempre resulta em obediência, mesmo a despeito de fracassos pontuais durante a caminhada. Quando Deus pesou a vida de alguns judeus, mesmo tendo a lei, sua vida era mais perversa do que a dos gentios. As bênçãos de Deus não os conduziram ao arrependimento; o que é lamentável. Estavam usando a bondade de Deus como uma desculpa para o pecado e acumulando ira sobre eles para o dia do “justo” julgamento de Deus (v.4).

Alguns judeus viviam uma vida “de fachada”. Aparentavam que tinham um coração entregue a Deus, mas não, suas obras denunciavam o contrário. O apóstolo falou que aqueles que vivem em seu egoísmo, obedecendo ao pecado em vez da verdade, e praticando o mal (vs. 7-10), mesmo afirmando pertencer a Deus, estão caminhando em direção à ira de Deus.

Não haverá imunidade especial no dia do julgamento de Deus. Não existe “foro privilegiado”, pois em Deus não há parcialidade (v.11).

 

O julgamento de Deus é irretocável

O julgamento de Deus será de acordo com o conhecimento que cada pessoa possui dele. No v. 12 temos uma afirmação bastante coerente. Todos os que pecaram sem lei, sem lei perecerão. Isto é, os pagãos gentios e todas as pessoas que nunca conheceram a lei de Deus, em sua forma escrita, não serão julgados por meio dela. Eles não vão ser julgados por algo que não conheciam. Mas, sim pela a revelação geral de Deus por meio da natureza (Rm 1:18-32) e pela lei da consciência (Rm 2:14-15).

De igual modo, todos os que pecam sob a lei, pela lei serão julgados. Daí, Paulo mostra que, o simples fato de ter a lei não justifica ninguém (v.13). Não é porque os judeus tinham a lei que, automaticamente estariam salvos no julgamento. Era isso que os judeus imaginavam: que o simples fato de ter a lei lhes daria imunidade no julgamento! Por isso, Paulo está lançando uma situação hipotética quando diz que, “os que praticam a lei hão de ser justificados”, pois ninguém será salvo por esta razão, afinal, por não haver nenhum justo, por mais piedoso que seja, todo ser humano comete pecado e não consegue viver obedecendo a lei em todos os momentos. Portanto, não existe nenhuma possibilidade de salvação por este caminho. A mesma lei que os judeus afirmavam obedecer também os acusava.

Nos versículos 14-15 podemos ver algo que é perceptível a nós, não importa aonde vamos. Sempre “encontramos gente com percepção de certo e errado, dotadas de um juiz interior que a Bíblia chama de consciência. Em todas as culturas, encontramos o senso de pecado e medo do julgamento, e uma tentativa de expiar erros pelas transgressões e de apaziguar os deuses”.[2] No dia final, Deus julgara os pensamentos secretos dos homens (v. 16). Ele não se impressiona com meras formalidades. Ninguém vai poder acusar Deus de errar seu “julgamento”, pois, além de conhecer os atos exteriores, Deus conhece as motivações interiores dos seres humanos.

Diante deste trecho da carta aos Romanos, temos um desafio: refletir sobre o nosso modo de vida e cuidarmos para não condenar os outros naquilo que nós mesmos não vivemos. Além disso, precisamos nos acautelar com a religiosidade. O fato de irmos a igreja regularmente, vestirmos determinada roupa, cantar música gospel, ou fazer coisas semelhantes a estas, não nos garante salvação e nem prova que nosso coração realmente pertence a Deus. Parece que Paulo falava há um grupo de pessoas religiosas que confiavam demais nestes procedimentos exteriores, e achavam-se bons demais diante de Deus. Fujamos deste caminho!

 

Por Eleilton Freitas,

Teólogo, escritor e diretor do CETAP (Centro de Estudos Teológicos Adventista da Promessa).

 



[1] Stott (2005:88).

[2] Wiersbe (2006:677).