O sábado foi feito para servir as pessoas… (Mc 2:27a, NTLH).

“Perseguidores profissionais” ou “Policiais do sábado”, os dois títulos definem muito bem os fariseus. Afinal de contas, se dar ao trabalho de ficar escondido no meio das searas, em pleno sábado, só para acusar quem passasse por ali, é chocante! Que tipo de religião é esta? Acha que estamos exagerando, leia o episódio narrado em Marcos 2:23-28, e vera que a realidade é bem pior.

Este texto conta que Jesus atravessava uma plantação no dia de sábado com seus discípulos, e estes últimos estavam com fome (Mt 12:1). No sábado, a mesa do povo de Deus era farta, afinal, este é um dia de celebração. Comentaristas dizem que algumas pessoas chegavam a comer menos no dia anterior, para garantir o apetite no sábado. Não sabemos se este era o caso dos discípulos, mas o fato é que eles estavam com muita fome. Por isso mesmo, começaram a colher espigas e comê-las.

Nas leis presentes no livro de Deuteronômio, havia uma que dizia que qualquer israelita com fome poderia entrar no campo do seu próximo e apanhar comida, conquanto que não utilizasse foice (Dt 23:25). Isso era possível por causa de outra lei sobre as colheitas, que prescrevia aos agricultores hebreus que não colhessem os cantos dos terrenos cultivados (Lv 19:9-10), pois estas partes eram para o pobre e para o necessitado. Na lei não havia nada falando sobre o dia de colher, pois a motivação para tal colheita era a fome. Sendo assim, Jesus e os seus discípulos, de acordo com a lei de Deus, não estavam cometendo nenhum erro.

Mas os policiais do sábado tinham regras próprias, criadas por eles mesmos. De acordo com as 39 proibições que redigiram sobre a guarda do sábado, uma delas dizia que era proibido colher, selecionar e separar grãos no sábado. Ah! Agora assim entendemos o porquê do tamanho do espanto deles. De acordo com suas leis, Jesus e os discípulos estavam realmente transgredindo o “mandamento de Deus”.

Os policiais do sábado não entendiam a razão da instituição do sábado e nem porque ele foi estabelecido. Observe que Jesus nem se preocupou em se justificar e provar que não estava transgredindo as leis de Deus. Em suas respostas, o mestre quis lhes mostrar o propósito original do estabelecimento do sábado, coisa que os “policiais do sábado” não entendiam e por isso criaram as suas “regrinhas”.

A resposta de Jesus é reveladora. Ele afirmou que o sábado foi “feito” por causa do homem – o sentido aqui é de humanidade, homem e mulher (Mc 2:27). Temos uma verdade bem interessante neste texto. A palavra traduzida por “feito” significa, dentre outras coisas: “vir à existência” ou “começar ser”. Segundo Jesus, a “razão de ser” do sábado é o “homem”. Ele não existia antes do homem, e passou a existir “por causa” deste. E nunca o contrário: … o homem por causa do sábado (Mc 2:27). Esta era a visão dos “policiais do sábado”, que usavam o mandamento para escravizar as pessoas. De acordo com o mestre, o homem não foi criado, para ser vitima do sábado. O valor do sábado não está nele mesmo, mas no serviço que presta aos seres humanos. Por isso este dia é especial. Deus quis assim.

Além disso, o verbo “feito”, deste texto, aplicado ao sábado, nos faz lembrar o relato da criação. Quando é que o sábado foi instituído para servir as pessoas? Logicamente, em Gênesis 2:2-3. Logo depois de criar o homem, Deus criou o sábado. Podemos dizer de igual modo, sem nenhum medo de cometer erros doutrinários, que, como o sábado só começou a existir por causa do ser humano, enquanto existir “ser humano”, existirá o “sábado”. É importante destacarmos também que Jesus disse o sábado foi feito por causa do “homem”, isto é, do “ser humano” (gr. anthropos), e não somente do povo judeu.

Cuidado com os policiais do sábado do século XXI. O sábado é um presente de Deus para o ser humano. O sábado é um dia entre sete, em que o povo pode parar com suas atividades ocupacionais diárias para poder adorá-lo sem outras preocupações, além de também ser um dia de revigorar o corpo. O nosso grande exemplo de observância do sábado é o Senhor (Êx 20:11). Em Êxodo 31:17, lemos que depois de fazer o céu e a terra em seis dias, no sétimo ele descansou e tomou alento. Por favor, se você puder, sublinhe a palavra “alento” em sua Bíblia. Ele quer dizer “revigorar”, “tomar fôlego” ou “respirar fundo”. Sinceramente, Deus precisa renovar as forças? Não! Mas o fez como exemplo para nós.

Sábado é dia de “respirar fundo”. De desacelerar. Para nos lembrarmos de que a realidade última da vida não é o que fazemos: o nosso trabalho, as nossas riquezas e conquistas. É uma oportunidade para colocarmos a alma no ritmo de Deus, e livrá-la de achar que o mais importante é fazer algo. Reconhecemos que todo o nosso esforço, por si só, não adiante nada. Quando paramos no sábado, estamos admitindo que confiamos na graça de Deus; não procuramos ganhar, recebemos. Aos sábados nós nos parecemos menos com Marta, e mais com Maria, pois gastamos tempo aos pés do Senhor.

O sábado é, de igual modo, tempo propício para fortalecermos a comunhão – a Bíblia mostra Jesus visitando pessoas e compartilhando de suas refeições, no dia de sábado (Lc 14:1). Por fim, com o sábado Deus também quer nos lembrar de que é ele quem controla o nosso tempo. Em nossa agenda deve haver espaço para o Senhor.

Percebeu? O sábado foi dado por Deus ao homem para o seu benefício e felicidade. Foi dado não para ser um fardo, mas uma bênção. Era isso que os policiais do sábado não entendiam. E é isso que precisamos entender. O sábado é um presente de Deus para nós, toda semana. Desfrute deste presente com alegria e gratidão. Não o observe como os “policiais”, mas como as mulheres do Novo Testamento, que descansaram no sábado, conforme o mandamento (Lc 23:56).

Eleilton William de Souza Freitas

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Ricardo. Janelas para a vida. 2 ed., Curitiba: Encontro, 2008.

CARRIKER, Timóteo. Trabalho, descanso e dinheiro. Viçosa, MG: Ultimato, 2003.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado v.v. Vol. 1, São Paulo: Milenium, 1979.

WATTS, Rick. Jesus o modelo pastoral. Rio de Janeiro: Danprewan, 2004.

Champlin (1979:677).
Watts (2004:42).
O original traz a ideia de “estar faminto”.