Quando Amós foi chamado para ser profeta? Em que circunstâncias? Quais foram as características do seu chamado? É o que se pretende mostrar na sequência, antes de se estudar sobre suas denúncias. O artigo de hoje da série “mais que um peão” mostra detalhes do chamado do profeta Amós. 

 

2.1 A época do chamado

            Amós profetizou por volta de 765-760 a.C., na época em que Jeroboão II (785-744 a.C.; 2 Rs 14:23-29) era rei em Israel. Suas profecias, um clamor por justiça social, foram dirigidas ao reino de Israel. O convite do profeta era para que o povo buscasse a Deus, e ao bem em vez do mal, para que a justiça fosse estabelecida novamente (5:6,14-15). Amós registrou suas profecias numa época em que o reino de Israel vivia um tempo de grande prosperidade, com muitas e luxuosas construções, aumento de recursos agrícolas, progresso da indústria têxtil e tinturaria.[1] Todo este desenvolvimento e progresso foram acompanhados de injustiças e contrastes sociais, corrupção do direito e exploração dos pobres.

 

2.2 As circunstâncias do chamado

             O profeta diz que o Senhor o tirou “da criação de gado” (7:15). Isto é, enquanto guiava os rebanhos, no decurso de suas atividades diárias corriqueiras. Deus o tirou “de” suas ovelhas e lhe deu um novo rumo: “vai e profetiza contra Israel”. O importante pastor de Tecoa foi chamado enquanto estava empregado. Não era nem um desocupado e nem um despreparado.

 

2.3 As características do chamado

             Em primeiro lugar, pode-se afirmar que seu chamado foi irrecusável. Amós diz que Deus o “tirou” do meio da criação de gado (7:14). O termo transmite a ideia de força e de surpresa.[2] Suas atividades regulares foram interrompidas por uma compulsão irresistível da parte de Deus. Ao que parece, não houve resistências da parte de Amós. Ele parece deixar isto implícito em 3:8. Pode ser que ele tenha recebido uma palavra específica de comissionamento de Deus, de modo claro e inequívoco.

Em segundo lugar, talvez ele teve experiências visionárias que o fizeram entender que ele fora chamado para ser profeta. O texto diz: Palavras que, em visão vieram a Amós… (1:1). O termo original chazah poderia ser usado, também, para a visão de um vidente em estado de êxtase. Amós teve visões. R. E. Clements defendeu ser muito provável que, foi por causa destas experiências visionárias, que Amós percebeu Deus o chamando para ser profeta.[3] Outra opção seria colocar as visões após o chamado, como consequência deste. Neste caso as visões aconteceram não antes, mas no curso de seu ministério profético. Parece que esta é a visão mais aceita pelos estudiosos, tais como Hubbard[4] e Smith,[5] diferente do que afirmou Clements.

Em terceiro lugar, pode-se dizer que ele teve um chamado bi-vocacional. Ele não foi chamado para ser um profeta profissional, ligado a alguma corte ou santuário, como era o caso de Amazias, sacerdote de Betel (7:10). Também nunca estudou numa escola de profetas ou fora ligado a corporação dos mesmos. O profeta Amazias deixou entender que os profetas profissionais possuíam remuneração (7:12) e que Amós estava ali como um profeta em busca de remuneração: Retira-re para a terra de Judá e ali vai ganhar a vida, isto é, ganha a vida atuando como profeta profissional em Judá e não aqui.[6] O profeta-pastor deixou claro ao mesmo que não estava profetizando por causa de dinheiro, e deu a entender que seu chamado era bi-vocacionado (7:14-15). Amós chegou a dizer que “não era profeta”, e que continuava ganhando a vida como criador de gado e vendedor de sicômoros. Pape afirma que: “Amós não era pregador assalariado. Pregava por conta própria”.[7]

 

2.4 A duração do chamado

A duração do seu chamado é desconhecida, mas é possível que não tenha durado nem mesmo um ano, segundo Smith.[8] Ele foi chamado para profetizar numa situação específica e, deve ter retornado às suas atividades normais, uma vez cumprido o chamado de Deus para sua vida.

 

Eleilton William de Souza Freitas,

Diretor da FATAP.

 


[1] Balancin; Storniolo, 1991, p. 8.

[2] Hubbard, 1996, p. 242.

[3] Apud Hubbard, 1996, p. 105.

[4] Hubbard, 1996, p. 141.

[5] Smith, 2008, p. 50.

[6] Hubbard, 1996, p. 240.

[7] Pape, 1986, p. 23.

[8] Smith, 2008, p. 21.